##CARPE DIEM##

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   Nelson Rodrigues é um homem que dispensa apresentação ,mas quando se fala do Teatrólogo. Já do cronista é preciso apresentá-lo como o polêmico e mordaz, mas nem por isso deixa de ser delicioso ler cada linha dos seus escritos.
 
O livro “O óbvio Ululante – primeiras Confissões” é uma coletânea de suas crônicas do ano de 1968. Ler suas linhas nos faz viajar e conhecer personagens da época.
Deixo aqui uma dose da sua genialidade.


Sapos e Pirilampos Ululantes

Nelson Rodrigues

Chego à redação e o contínuo vem avisar: — “Telefona­ram para ti”. Estou tirando o paletó: — “Homem ou mulher?”. E o outro: — “Homem”. Ponho o paletó na cadeira: — “Dei­xou recado?”. Não, não deixara. Sento-me. Um telefonema anô­nimo é uma janela aberta para o infinito. Já num começo de an­gústia, imagino quem seria, quem? Podia ser o alfaiate, ou o lei­teiro, ou o açougueiro, ou o Chico Buarque de Hollanda.
Passei em revista todos os meus amigos e todos os meus inimigos. E, de repente, ocorreu-me uma hipótese inusitada: — e se fosse o rei Gustavo, da Suécia? Na Suécia, há sempre um rei Gustavo, um rei Gustavo que joga tênis. Não governa, mas joga tênis. E, por um momento, com imenso deleite, sonhei com o telefonema real.
E, súbito, volta o contínuo, esbaforido: — “Telefone. É o cara”. Saí tropeçando em mesas e cadeiras. Agarro o aparelho: — “Alô? Alô?”. Ouço a voz: — “Nelson Rodrigues?”. Confir­mo: — “Sou eu”. E pergunto: — “Quem fala?”. Ia desfazer-se o mistério insuportável. A voz respondeu: — “Vladimir Palmei­ra”. Cavou-se, então, no telefone, uma pausa abismai.
Fui, por uns dez segundos, o sujeito mais espantado da Ter­ra. Vejam vocês: — minutos atrás, imaginara eu o telefonema do rei Gustavo. E eis que a realidade ultrapassava, de muito, a fantasia paranóica. (De fato, nem rei de baralho telefona para mim.) Vladimir Palmeira era muito mais insólito do que qual­quer Gustavo passado, presente e futuro. Como que rachado por um raio deslumbrante, solucei no telefone: — “Vladimir? Mas oh! Eu não mereço tanto!”.
Abro um breve parêntese. Como se sabe, estão invertidas as relações de jovens e velhos. Hoje, um ministro, ou profes­sor, ou sacerdote se dará por muito feliz de servir cafezinho e água gelada à juventude. Outro dia, passou por nós um jovem de peruca e costeletas. E um velho catedrático o lambeu com a vista. Eis o que me perguntava: — e por que o Vladimir fazia a mim, um velho trôpego, a concessão surrealista de um telefonema?
No caso de Vladimir, não era apenas “O Jovem”, era tam­bém “O Líder”. Desmanchei-me: — “Quanta honra”. Exage­rei, e o confesso, a minha subserviência. (Eu estava me sentin­do o próprio contínuo das Novas Gerações.) Vladimir começa­va a falar: — “Nelson, preciso de um favor teu”. Interrompi-o tumultuosamente: — “Você manda, você manda!”.
Tratava-o por “você” com escrúpulo e dúvida. Sim, eu es­tava temeroso de um passa-fora, Vladimir cria um suspense e faz o pedido: — “Preciso que você faça comigo uma ‘entrevis­ta imaginária’ urgentíssima! Entende?”. Arremessei-me: — “Quantas quiser! Hoje mesmo! Quer hoje? Será hoje!”. Ele já se despedia: — “Combinado”. E desligou.
Dessa vez, fui mais cedo para o terreno baldio. Reuni mos­cas, pirilampos, gafanhotos, sapos e fiz-lhes o apelo: — “Comportem-se! Vem aí ‘O Jovem’! Comportem-se!”. Chamei também os faunos e as ninfas que fazem seus idílios nos terre­nos baldios. Falei como não o faria melhor a própria Bernarda Alba: — “Tomem juízo! Ou vocês não receberam educação se­xual?”. Também os faunos e também as ninfas prometeram um comportamento estritamente familiar.
Finalmente, chegou Vladimir Palmeira. Meia-noite em pon­to. O papel picado caía como neve de Papai Noel. E o líder en­tra de chapelão e capuz de Michel Zevaco. Só não entendi o bi­gode de cossaco. E, então, o Vladimir explica: — “Pedi empres­tado o bigode do Hugo Carvana. Estou despistando. Se me vis­sem contigo, que diriam os liderados?”. Achei aquilo de uma clarividência estarrecedora. Disse-lhe: — “Você é vivo, hem, Vladimir?”. Em seguida, perfilei-me e disse: — “Estou às suas ordens”.
Vladimir ia começar. Súbito, viu a cabra vadia que, adian­te, comia o capim, isto é, comia o cenário. Toma um susto: — “Essa cabra é de confiança?”. Tive de jurar que não era do DOPS. Uma última dúvida lhe corroeu a alma: — “Vê lá, vê lá!”. Novamente, dei-lhe a minha palavra: — “Cabra de bem! Cabra de bem!”. E, então, o líder falou.
Disse: — “Vim aqui pedir”. Imaginei que fosse pedir des­culpas pelos 2 mil anos da Igreja. No momento, os sacerdotes, os intelectuais, os arquitetos, os cineastas, os artistas plásticos, os professores, todos, todos pedem desculpas pelos dois mil anos de Igreja. Mas não era isso. Vladimir continua: — “Nel­son, não me elogia mais! Nunca mais!”.
O meu espanto assumiu proporções quase dolorosas: — “Como? Como? Não elogiar a quem e por quê?”. Nos comícios estudantis, Vladimir é de uma pura, exata, imaculada objetivi­dade. Dessa vez, falou com rompantes de um Tartarin: — “Seu idiota! Seu elogio é, na minha vida, uma mácula. Entende? Fisi­camente, uma mácula. Depois do seu elogio, tive que tomar um banho! Tive que me esfregar com palha de aço! Está proibido de me elogiar! Proibido!”.
Na minha confusão trágica, eu já não ousava nenhuma inti­midade. Chamei-o de “Excelência”, de “Excelentíssimo”. E esse tratamento de envelope apaziguou a sua fúria. Reconheceu mes­mo que se excedera: — “Desculpe a minha exaltação. Mas vo­cê não imagina. Você é o reaça. Mais um elogio de você e eu caio do cavalo”. Crispado de vergonha, limitava-me a repetir, obtusamente: — “Excelência, Excelência!”. E disse: — “Não tive a intenção! E nem pensei que…”.
Foi aí que a cabra se intrometeu: — “Um momento, um momento”. Paramos. A cabra vira-se para mim: — “Faz o se­guinte: — escreve um artigo xingando o Vladimir. É a solução!”. Vladimir exulta: — “Isso mesmo! Luminosa idéia! A senhora é uma George Sand!”. A cabra baixou a vista, rubra de modéstia. E tinha mesmo um ar de George Sand sem Chopin. Vladimir me agarra: — “Escreve o tal artigo. Me xinga de todos os no­mes. Diz que eu sou o último, o último dos… Diz o que você quiser. Contanto que não me elogie”. Ainda quis objetar: — “Mas eu o admiro, eu o admiro!”. O Líder zangou-se novamen­te: — “Elogios, não admito!”. E, mudando outra vez de tom, com ardente humildade: — “Põe isso na tua cabeça. Tem uns quinhentos sujeitos, na classe, querendo ser líder. E cada vez que sai meu nome no jornal, querem me comer vivo. Os con­correntes me acusam de vedetismo. Aqui entre nós, que ninguém nos ouve, sou uma prima-dona, mas não posso parecer prima-dona”. Vira-se para a cabra: — “A senhora me entende?”. E a cabra: — “Vladimir, pra mim você é um livro aberto!”. A entrevista imaginária chegara ao fim. Eu e a cabra fomos levar o líder ao táxi. E, quando ele partiu, foi patético. Os sapos, pirilampos, gafanhotos, corujas berravam como nos comícios do Brigadeiro: — “Já ganhou, já ganhou!”.

[6/7/1968]

Nas noites de sexta-feira de 2004, eu era encontrada facilmente no Cineclube da casa Amarela (Recinto Cinéfilo importante para retomada do Cineclubismo Cearense).

Muitos filmes assistidos neste espaço marcaram minhas noites de sexta.

Entre estes, Antes do Amanhecer, um tocante romance entre Celine (Julie Delpy) e  Jesse (Ethan Hawke) , tendo como pano de fundo a madrugada de  Viena .

O charme desta película ainda foi reforçado pela sua continuação (Antes do Pôr do Sol), por
apresentar um diferencial; Os diálogos foram escritos pelos atores juntamente com o diretor e a produtora durante 9 anos.

Foi uma doce surpresa para mim. É tudo muito espontâneo, franco e apaixonado. Na verdade considero a configuração de uma arte legítima e bela.

Nos últimos minutos de Antes do Pôr do Sol, Celine canta uma música para Jesse, que foi composto pela própria atriz. Que presente!

Divido aqui com vocês todo esse encanto.

A Waltz for a Night

http://www.youtube.com/watch?v=obuV1KrvEYo

“Vou lhe cantar uma valsa que saiu do nada dos meus pensamentos.

Vou lhe cantar uma valsa sobre um caso de
uma noite.

Você foi meu naquela noite, foi tudo que sonhei a vida inteira.

Mas agora você se foi

Você foi para longe

Foi para a sua ilha de chuva

Para você foi apenas um caso de uma noite, Mas
para mim você foi muito mais

Só para você saber


O que disseram pouco me importa…

Sei o que você foi para mim naquele dia.

Só quero tentar de novo,

Só quero mais uma noite

Mesmo se não der certo.


Você significou muito mais do que qualquer
outro que eu já conheci.

Uma noite com você Pequeno Jesse.

Vale mais do que mil com qualquer outro

Não estou amargurada, amor.

Jamais esquecerei este caso de uma noite mesmo
amanhã nos braços de outro.

Meu coração será seu até quando eu morrer…

Vou lhe cantar uma valsa que saiu do nada da
minha tristeza…

Vou lhe cantar uma valsa sobre aquela noite
maravilhosa.”


Após quatro anos de produção (2005 — 2008), será lançado em
breve CENTOPEIA, o primeiro longa-metragem de ficção-científica feito
no Ceará, do cineasta Daniel Abreu.

O filme estréia no dia 26 de
julho, às 20:00
, no Centro Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro, o Cine
São Luiz, com exibição aberta ao público. O lançamento conta com o
apoio do SESC/FECOMÉRCIO, da Estação da Luz e da Faculdade Grande
Fortaleza.


Trailer Oficial do Filme CENTOPEIA:

http://www.youtube.com/watch?v=TYRRPHyFBuw



Paradoxo Ambulante. Borboleta de muitas asas.Uma Atriz.